O número de homicídios em Campo Grande aumentou 10% este ano, durante a pandemia da Covid-19, em comparação com o mesmo período de 2020.
De 1º de janeiro até o dia 15 deste mês, foram 33 assassinatos na Capital contra 30 no ano passado, conforme os dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Os dados são de homicídios dolosos, que se referem ao assassinato com intenção de cometer o crime.
O titular da Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social de Campo Grande, Valério Azambuja, atribui a alta de assassinatos ao confinamento social durante a pandemia.
“A criminalidade tem algumas peculiaridades. Na região de fronteira, temos facções disputando poder com alto índice de morte, o que não é a realidade da nossa Capital, mas, infelizmente, a pandemia tem agravado esses índices – o ser humano é mau por natureza”, destacou.
Azambuja pontua que a maioria dos crimes registrados na Capital é por dívidas de usuários de drogas.
“Campo Grande ainda é uma cidade segura, grande parte dos crimes que ocorrem são por problemas de tráfico, dívidas de usuários de droga, roubo seguido de morte e desentendimentos banais, que são registrados principalmente durante o fim de semana”.
O advogado criminalista José Roberto da Rosa também acredita que o confinamento durante a pandemia é uma das principais causas para o crescimento da criminalidade.
“Com a pandemia, muitas pessoas perderam familiares, e, em razão disso, algumas não estão conseguindo lidar com a perda e acabam sendo violentas. O grande problema é a perda emocional, isso ocorre com o prolongamento da pandemia, por isso o aumento expressivo na Capital”, pontuou.
Em relação a Mato Grosso do Sul, houve redução no número de homicídios dolosos no comparativo de janeiro a abril. Foram 116 assassinatos este ano contra 132 no mesmo período de 2020, queda de 12,12%.
De acordo com dados da Sejusp, nos 12 meses do ano passado, foram 430 assassinatos no Estado, enquanto durante todo o ano de 2019 foram apenas 413 registros.
O último assassinato registrado na Capital ocorreu na quarta-feira (28), em que um homem, identificado como Douglas Aparecido Lima dos Santos, de 28 anos, foi assassinado a tiro enquanto estava pedindo dinheiro em um cruzamento de Campo Grande.
O tiro acertou o rosto de Douglas, que caiu no chão.
O socorro foi acionado, porém, quando chegou, a vítima já estava morta.
O rapaz estava na Rua Cândida Lima de Barros com a Avenida Marquês de Pombal.
Segundo moradores informaram à Polícia Civil, Douglas morava no Tiradentes, mas perambulava pelas ruas do bairro pedindo dinheiro.
Até então, ninguém tem informações sobre o atirador que matou Douglas Aparecido Lima dos Santos.
A vítima era casada e costumava pedir dinheiro pelas ruas da região.
Nos últimos 20 dias, dois moradores de rua foram alvos de tiros na Capital.
Valério Azambuja comentou sobre o ocorrido e destacou que alguns crimes acontecem fora da curva, em consequência do isolamento.
“Isso é um absurdo, alguns crimes que ocorrem fogem da normalidade, isso não é comum. A vítima estava pedindo dinheiro no trânsito, esse tipo de comportamento não tem justificativa”, pontuou o secretário de Segurança.
José Roberto da Rosa reitera que, em virtude da pandemia, as pessoas estão mais violentas, o que tem impactado os índices de criminalidade.
“Em função da minha experiência, percebo que as pessoas estão perdendo a fé na vida, tenho assistido muitos homicídios banais por conta de briga, pessoas que decidem tirar a vida da outra por qualquer motivo. Neste ano temos muitos crimes sem justificativa”, alegou o especialista.
No Estado, de 2017 a 2018, os homicídios caíram 14,3%, de acordo com o Atlas da Violência 2020, documento elaborado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que traça o perfil das mortes ligadas ao crime no Brasil.
O mais recente levantamento, que traz números dos assassinatos entre 2008 e 2018, mostra que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes passou de 24,3, em 2017, para 20,8, em 2018, em Mato Grosso do Sul.
O Estado aparece no Atlas de 2020 com a sexta menor taxa de mortes violentas, ficando atrás somente de Piauí (19,0), Distrito Federal (17,8), Minas Gerais (16,0), Santa Catarina (11,9) e São Paulo (8,2).